VIDA E OBRA DE CAMARGO GUARNIERI



A vida musical de Camargo Guarnieri (Tietê SP 1907 - São Paulo SP 1993) é diversificada, ele desempenha tripla função em sua carreira profissional: de compositor, professor e regente. Filho de Miguel Guarnieri, barbeiro e flautista, e de Géssia Arruda Camargo Penteado, pianista. Dos pais recebe as primeiras lições de música.

Passa os primeiros 15 anos de sua vida na cidade de Tietê, no interior paulista e tem como referência as canções e danças dos grupos musicais da região. Às terças paulistas encontradas em sua obra nascem da lembrança das escutas musicais da infância. Dança Brasileira, composição de 1928, escrita inicialmente para piano e mais tarde para orquestra, surge da memória que o compositor tem das comemorações da abolição da escravatura em sua cidade, no dia 13 de maio, quando o ritmo das danças dos negros é contínuo durante os festejos.

Em 1922, muda-se com a família para São Paulo e, dois anos mais tarde, começa a ter aulas de piano com Ernani Braga. Por intermédio do pianista Antônio Munhoz, conhece o escritor Mário de Andrade, em 1928. Suas relações com as ideias modernistas, e particularmente com Mário de Andrade, têm características muito especiais.

Em 1930, Camargo Guarnieri escreve a canção “O Impossível Carinho” sobre poesia de Manuel Bandeira, um marco no canto de câmara no Brasil, do qual é um dos mais populares. Um ano depois, mostra o “Choro nº 3”, para flauta, oboé, fagote, clarinete e trompa, no Instituto Nacional de Música (INM), que enfatiza seu interesse pelas formas nacionais de música popular.

Em outubro de 1942, após aceitar convite da Pan-American Union, como hóspede do Departamento de Estado Norte-Americano, viaja pela primeira vez para os Estados Unidos. Permanece nesse país por um período de seis meses, e recebe o prêmio pelo 1º Concerto, para violino e orquestra, que se classifica em primeiro lugar no Concurso Internacional Fleischer Music Collection. Faz duas apresentações como regente da Orquestra Sinfônica de Boston na abertura concertante. Assume, em 1945, o cargo de regente supervisor da Orquestra Municipal de São Paulo.

Como professor de composição desenvolve a formação de centenas de alunos e é um dos poucos músicos a formar uma escola. Apresenta um grande interesse pelo ensino de música no país e elabora um plano para o ensino de música, no período em que é assessor musical de Clovis Salgado, ministro de Educação e Cultura do governo do presidente Juscelino Kubitschek. Propõe que os alunos frequentem o conservatório das 7 horas da manhã às 6 da tarde, estudando música e todas as outras matérias do currículo escolar, como ocorre na época em países como os Estados Unidos

Em 1975 ocupa o cargo de regente e diretor artístico da Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo e permanece nessa função até 1992. Recebe no mesmo ano o Prêmio Gabriela Mistral, da Organização dos Estados Americanos (OEA), que lhe confere o título de Maior Músico das Três Américas.